Demóstenes se diz inocente em ‘missão impossível’ na Comissão de Ética

Data: 30/05/2012

Presente ao Conselho de Ética do Senado, que investiga as relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres, atrasado por mais de 30 minutos, quebrou o silêncio. Na abertura de seu discurso, o acusado de integrar a organização criminosa disse que chegou a pensar na renúncia ao mandato, mas optou por responder aos questionamentos de seus pares, no plenário da Comissão de Ética. A defesa de Demóstenes, para o ex-aliado senador Álvaro Dias (PSDB-PR), consiste em uma espécie de “missão impossível”. O próprio acusado abriu seu discurso de defesa remetendo a questão ao Divino.

– Eu só pude chegar até hoje porque redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas acho que minha atuação era pautada mais pelos homens do que por Deus – disse Demóstenes.

Advogado, ex-secretário de Segurança do Estado de Goiás, Demóstenes optou por seguir, passo a passo, nas denúncias formuladas contra ele, sem abranger a questão de fundo, que é a ligação mantida com o contraventor, cujas atividades o acusado disse desconhecer porque não tinha “lanterna na popa”. Assim, ele se lançou à resposta de uma denúncia, formulada na revista Carta Capital, sobre a participação do senador no faturamento das máquinas caça-níqueis mantidas pela quadrilha de Cachoeira. O senador citou um “informe do delegado Deuselino Valadares”, que informava da utilização de parte dos recursos obtidos com o jogo no “caixa-dois da campanha”, de acordo com o depoimento de Rui Cruvinel, preso por ser dono de um casa clandestina de jogos.

– Todas as autoridades que atuaram nesse inquérito disseram, textualmente, que eu não tenho nada com o jogo – disse o acusado, antes da leitura dos autos.

O advogado dele, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, já havia adiantado, na chegada ao prédio do Senado, que o parlamentar usaria os primeiros 20 minutos da sessão para falar sobre sua atuação na vida pública, ficando, a seguir, à disposição para responder perguntas dos colegas. Na CPI, no entanto, Kakai já adiantou que ele poderá ficar calado, exercendo o direito de não fornecer provas contra si.

– Estou inteiramente aberto a confrontar as denúncias com a defesa dele e elaborar um relatório levando em consideração tudo isso – disse o relator Humberto Costa (PT-PE), em entrevista à Rádio Senado.

As outras testemunhas indicadas por ele, o advogado Ruy Cruvinel e o próprio Carlos Cachoeira se recusaram a depor. Desde que começou a analisar a representação contra Demóstenes, o Conselho ouviu dois delegados responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo que resultaram na prisão de Cachoeira e revelaram a ligação do bicheiro com parlamentares.

Apesar da decisão de comparecer, e falar, diante da Comissão de Ética do Senado, a situação de Demóstenes era a pior até mesmo entre ex-aliados, como o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Ao chegar à reunião do Conselho de Ética, que considera a defesa do senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO) uma “missão impossível”.

Para o líder do PSDB, houve quebra de decoro.

– Os fatos são contundentes e nada pode reverter essa expectativa de cassação de mandato – disse.

As perguntas do relator do processo, Humberto Costa (PT-PE), e dos senadores foram respondidas por Demóstenes. O advogado do acusado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, ficou incumbido de responder às perguntas dos repórteres que cobrem o caso.

Na CPMI

À tarde, na reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, seria votada a convocação de três governadores e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico relacionados á direção nacional da Delta Construções. A convocação dos governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF) tem sido motivo de polêmica nas últimas semanas. O assunto somente seria analisado no dia 5 de junho; mas, diante da pressão de alguns dos integrantes da CPMI, o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) antecipou a decisão para esta terça-feira, contando com o apoio dos parlamentares do PMDB, PT e PSDB. Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT) e Kátia Abreu (PSD-TO) e os deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Sílvio Costa (PTB-PE), por sua vez, protestaram, pois queriam que os requerimentos para as convocações tivessem sido apreciados na quinta-feira.

Outro assunto polêmico da pauta era a quebra de sigilo da Delta em âmbito nacional. Na semana passada, com a revelação de que recursos de contas da construtora no Rio de Janeiro abasteceram empresas de fachada que serviam à organização criminosa, o próprio relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), que inicialmente era contrário à ideia, admitiu pela primeira vez a necessidade de se investigar as atividades da matriz da empresa.

– A quebra de sigilos das filiais da Delta, no Centro-Oeste apontou indícios de que o ex-diretor Cláudio Abreu tinha autorização para movimentar contas nacionais da construtora – afirmou Odair Cunha.

Correio do Brasil


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